A Natureza é sábia e entrevista com Cristiano Marcel no espaço Poetas de Marte
Enfeita a sacada
A trepadeira herbácia
Um chuchuzal
Deixei na fruteira o último chuchu para fazer um suflê. Alguns dias
depois um brotinho nasceu. Uma folhinha meio esverdeada e enrolada foi
se abrindo. Enterrei-o então num canto do jardim.
E para a surpresa
de todos muitas folhinhas foram aparecendo através das gavinhas, que
por sua vez foram procurando guarida nos galhos da primavera e do pé de ameixa.
Eclode um broto
na pontinha do chuchu
hora do plantio
Silenciosamente
De mãos dadas com as gavinhas
O verde avança
Os dias foram passando e as ramas crescendo a ponto de ter que desviar as gavinhas em direção ao guarda corpo da sacada para não invadir o muro do vizinho. Não satisfeitas, as gavinhas foram cada vez mais se expandindo, se enrolando e descendo no corrimão da escada.
Três meses depois minúsculas florezinhas amarelas foram surgindo atraindo dezenas de abelhinhas e cambacicas, que para minha decepção (as abelhinhas de tão pequeninas, e as cambacicas de tão ágeis) nunca as consegui fotografar. Finalmente vieram os primeiros frutos e em menos de 10 dias pude colhê-los.
Um vai-e-vem
De cambacicas e abelhinhas
atraídas pelas flores
Quanto mais colho, mais frutos vão aparecendo escondidos entre o imenso verde. Até já distribuí aos vizinhos e parentes que ficaram encantados com esta fartura. Hoje pela manhã apanhei mais meia dúzia entre as abelhinhas rastreando as florezinhas e as cambacicas pulando de folha em folha. Não é um presente dos Deuses?
Muda o visual
O chuchus se espalhando
no meu quintal
Ninguém quer comer
O prato de chuchu
Se não for suflê
É medida sensata
Distribuir aos vizinhos
Chuchus á granel
Entrevista com o haicaísta Cristiano Marcel no espaço Poetas de Marte
Fui convidada pelo talentoso haicaista Cristiano Marcel no blog
(poetasdemarte.blogspot.com) para uma entrevista que ele intitulou
"Haikais que são uma pintura", a qual convido vocês para conhecer.
Cristiano Marcel é professor de matemática e grande haicaísta, detentor dos blogs Esquife de Memórias e Haicai e não Machuca.
Fico
honrada e agradecida por esta oportunidade e peço desculpas a você
querido amigo haicaísta por eu não ter conseguido enviar todas as
ilustrações , inclusive da tela e a releitura que fiz das dançarinas
esculpidas nas velas com massa de biscuit, a qual mencionei na
entrevista.
Para conhecimento de vocês faço a repostagem da entrevista .
Haicais de Domingo - Em que momento a sua poesia oriental
passou a fazer parte de seus versos?
Elisa Campos - Foi quando Andréia, uma sobrinha
me presenteou com o Livro "CEM HAICAISTAS BRASILEIROS" de Roberto
Saito, H. Masuda Goga e Francisco Handa e umas apostilas sobre haicais que ela
usou numa aula de literatura da Faculdade de Letras. Quando li o haicai de
Alice Ruiz "FIM DO DIA/PORTA ABERTA/O SAPO ESPIA" foi
como se um filme tivesse se desenrolado da minha infância. Esta cena comum no
interior e registrada nesse haicai me fascinou. Induziu-me até a
fazer uma oficina com a própria Alice Ruiz aqui em São Paulo.
A partir daí, o meu interesse por essa poética foi aflorando e hoje
foco como referência muitos grandes haicaístas: Matsuo Basho, Kobayashi
Issa, Masuda Goga, Teruko Oda, Paulo Franchetti, Edson Kenji Iura, Francisco
Handa, Nelson Savioli, Pedro Xisto, Oldegar Vieira, Luis Bacellar, Anibal Beça,
José Marins, Terezinha Canabarro, Monica Martinez, Alvaro Posselt, Henrique
Pimenta, etc.
Rumo ao sítio
Bougainvílleas na estrada
Passeio promete
Haicais de Domingo - Como você faz para compor seus versos
e aliar às belas pinturas que faz?
Elisa Campos - Na verdade sempre tento me inspirar
nos quadros que já tenho. Acho que esta prática foge da verdadeira essência do
haicai (captação do momento transitório), mas posso fazer, refazer e desfazer
desta poética a qualquer momento, é instigante. Aprecio muito utilizar nas
imagens o recurso do phootoshop recortando parte de uma pintura e inserindo em
outra ou vice-versa (conforme ilustração acima). Quando tento pintar um quadro
fazendo a releitura de um haicai já escrito nem sempre consigo o efeito
desejado. Desfaço a pintura repincelando com gesso acrílico branco e deixo num
canto até que uma nova idéia venha a fluir.
Rio de inverno-
Solitário canoeiro
Removagueando
Haicais de Domingo - Você possui publicações?
Elisa Campos - Tenho muitos haicais publicados no JORNAL NIPPOBRASIL
(ora inativo) e que agora estão sendo publicados na coluna HAICAIS do JORNAL
NIPPAK (periódico semanal que circula aqui em São Paulo) sobre supervisão e
seleção dos grandes haicaístas EDSON KENJI IURA (membro do Grêmio Haicai Ipê) e
FRANCISCO HANDA (monje budista e instrutor de haicai Zazen, também um dos
fundadores do referido Grêmio).
Colheita de Verão
Retinindo no roçado
Roxas berinjelas
Jornal NippoBrasil - Ed.16 a 22 de
fev./2011
Tremeluzir de asas
No final da cachoeira
Dança de libélulas
Jornal Nippak - Ed.11 a 17 de
maio/2012
E o primeiro Haicai (das
bougainvílleas)
pub.Jornal NippoBrasil- Ed.14 a 20 de
out./2009
Haicais de Domingo - Em Pintando Haikais, seu universo
particular, vemos a presença frequente de um determinado animal de estimação
(rsrsrs). Fale sobre eles!.
Elisa Campos - Eu sempre gostei de bichos. Os meus haicais são sempre
focados na natureza (fauna e flora). Depois que dois cães (boxers) se
foram e a minha calopsita de estimação fugiu, essa gata (recém-nascida)
apareceu próximo ao portão. Acho que foi ela quem nos escolheu (uma
dádiva), pois meu marido que dizia não gostar de bichanos se apegou tanto
que sempre que a gata faz poses inusitadas ele sempre me chama dizendo: -
Corre vem tirar a foto de sua inspiradora em haicais! (rsrsrs).
Réstias de sol
Nesta manhã de inverno
A gata aproveita
Haicais de Domingo - A sua formação acadêmica é
relacionada com as artes ou trata-se de autodidatismo?
Elisa Campos - A minha formação acadêmica não tem nada a ver com as
artes. Sou Bacharela em Direito e trabalhei no Tribunal de Justiça onde me
aposentei. Já em artesanato sou autodidata, um hobby que até hoje quando
posso me aventuro fazendo quadros em 3D, pintando vasos, praticando
ikebanas, moldando velas, flores de biscuit etc.. Gosto de
releituras do que faço. Estas velas com as dançarinas feitas de massa de
biscuit aramado nasceu do quadro que pintei na época que fazia (bio-dança) uma
modalidade de ginástica no espaço de Luiz Antonio Gasparetto. De certa forma a
minha poética com a arte está sempre inserida e interligada com os meus
momentos de vivência, como os haicais que singelamente capto dos jardins. Nas
pinturas em telas com exceção das técnicas mistas, muitas vezes conto com o
auxílio da minha vizinha e mestra Satie , renomada artista plástica.
Ágeis compassos
Divas dançam no tablado
Passos de haicais
Haicais de Domingo - Você considera a weblog uma ferramenta
que contribui significativamente para a divulgação de outros tipos de poemas
menos falados por aí, tais como os rengas, haiku, tanka, fibhaikais,
limeriques, entre outros ?
Elisa Campos - Sim. Sendo todas essas modalidades de poemas
desconhecidos para muitos é de bom alvitre utilizarmos a internet como meio de
disseminá-las. Muitos dos amigos que compartilho nos blogs não conheciam e
alguns deles (excelentes poetas e cronistas) se tornaram também excelentes
haicaístas e hoje sou eu quem me encanto e aprendo com eles. Este espaço
"Poetas de Marte" é uma grande ferramenta para essa divulgação por
contar com grandes haicaístas como você, sempre estabelecendo vínculos com
outros poetas.